Terra, ciência, tecnologia e clima. Estes são os pilares da agricultura brasileira e os argumentos do setor do agronegócio para captar investimentos. Nesta quarta-feira, 8, durante o Brasil Investiment Fórum, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) anunciou que a agricultura brasileira fomentou a captação de cerca de R$ 40 bilhões em investimentos.
Aportes para a indústria de energia limpa e bioinsumos, com foco na Política Nacional de Fertilizantes, foram anunciandos no evento, a exemplo dos R$ 20 bilhões da Raízen para a construção de 20 plantas de etanol de segunda geração até 2030. O subproduto do etanol é uma das possibilidades de descarbonização da economia global, atraindo também os olhares internacionais.
Abdulrahman T. Bakir, diretor-gerente do Ministério de Investimentos da Arábia Saudita nas Américas, participou do evento após ter visitado o Brasil em julho, com mais 100 companhias interessadas na cadeia produtiva da agropecuária. Da transição energética à produção agrícola, Bakir mostra interesse em ambos.
“O Brasil é muito mais verde que nós, então queremos tranferferir essa tecnologia e estamos trabalhando próximos a Apex para isso. Consideramos um programa de investimentos em agricultura de US$ 100 milhões nos próximos 20 anos”, afirmou Bakir.
Diante dos números — e do interesse estrangeiro — o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reforçou a aptidão do país em incorporar mais 40 milhões de hectares para uso da agropecuária — só que de maneira diferente do passado.
“Incorporamos 40 milhões de hectares ao sistema produtivo nos últimos 50 anos anos, e vamos incorporar outros 40 milhões de hectares, só que com duas diferenças: não o faremos sobre a floresta e teremos o reconhecimento àqueles que têm boas práticas agrícolas”, afirmou o ministro.
Para isso, ele cita um programa de incremento de produtividade às pastagens degradadas, em que cerca de 130 milhões de hectares foram classificados como em ótimas condições para recuperação e uso, segundo Fávaro. “Menos de 2% dos produtores não incorporam técnicas com sustentabilidade e a eles cabe o comando e controle”, disse.
Clima e flexibilidade no comércio
Não é apenas na soja que o Brasil é referência, segundo Emily Rees, presidente da CropLife Internacional — entidade que representa a indústria de insumos químicos e biológicos. Ela viaja por países de base agrícola e afirma que o Brasil é um exemplo no sistema regulatório para o uso dos pesticidas. Ainda assim, é preciso se manter moderno para atender à demanda internacional.
“Após 30 anos, [a lei de defensivos] merece uma modernização, para trazer mais sustentabilidade, produtividade e competividade no campo, levando o Brasil para frente”, ela diz.
Emily Rees defende que o fator climático seja incluído de forma progressiva nas discussões sobre segurança alimentar, pois isso influencia diretamente o comércio internacional. De acordo com ela, secas e enchentes interferem no volume produzido e na logística de distribuição dos produtos, afetando sobretudo os países em desenvolvimento.
“Quando você olha para a África, mais de 30% da população está sob insegurança alimentar, sendo 82% do alimento importado lá. Vimos também na Argentina uma baixa de produção de milho de quase 40%. No Paquistão, meses de lavouras debaixo da água. Comércio exige pensar em adaptação climática, por isso precisamos de mais flexibilidade no comércio, com a agricultura de inteligência climática”, disse.
Fonte: Revista Exame