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CNA Jovem 10 anos: Conselho do pai inspira filho a aplicar conhecimento no campo

Brasília (10/03/2024) – “Vá estudar para ter uma vida melhor”. Quando Jildson Oliveira Souza ouviu o conselho do pai tinha apenas 15 anos. Apesar de muito jovem, já carregava uma certeza: iria sim seguir a orientação e sair em busca de conhecimento, mas para construir sua própria história ali mesmo, na propriedade da família, no povoado de Rose, em Santaluz, a cerca de 270 quilômetros de Salvador.

Hoje com 26 anos, Jildson sempre soube que o “vá estudar”, mais do que uma obrigação, seria uma oportunidade para transformar a vida do pai, José Nilson Souza, de sua família, e de outros produtores no “território do sisal”, uma região que abrange 20 municípios do semiárido baiano.

A iniciativa para aproveitamento dos resíduos da extração da folha de sisal foi destaque no CNA Jovem

Aos 15 anos, ao iniciar o curso de técnico agrícola, integrado ao ensino médio, na Escola Família Agrícola do Sertão (Efase), em Monte Santo, a 116 km de sua cidade natal, o jovem começou a estudar a cultura do sisal e uma questão sempre estava presente: como aproveitar a versatilidade da fibra, já usada na fabricação de tapetes, cordas, carpetes, para transformá-la em alimentos?

José Nilson na colheita de sisal na propriedade da família

“Meu pai vendia apenas a fibra, que corresponde a cerca de 4% da folha, então passei a buscar o conhecimento para aproveitar os resíduos de sisal, gerados na extração, para alimentar os animais do sítio. Ficou como um desafio, um objetivo: mostrar ao meu pai que isso seria viável”.

A busca pelo conhecimento mudou de patamar, mas os objetivos continuaram os mesmos quando Jildson, com 19 anos, foi aprovado no curso de engenharia agronômica na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no campus de Euclides da Cunha (BA).

Jildson na propriedade da família peneira os resíduos com a máquina peneira rotativa, desemvolvida pela Embrapa

“Os professores me ajudaram a delimitar o estudo na utilização dos resíduos gerados na extração da fibra do sisal para fazer compostagem e também utilizar na adubação e cobertura de solo. Meu sonho era transformar todo aquele conhecimento, a pesquisa, em algo aplicável”.

Na 4ª edição do CNA Jovem, Jildson foi um dos destaques com o grupo EducaAgro

Foi então que, em 2020, Jildson soube do CNA Jovem por meio de um professor da própria Universidade e decidiu se inscrever para a 4ª edição do programa, realizada entre agosto daquele ano e outubro de 2021 e, pela primeira e única vez, totalmente virtual em razão da pandemia de Covid-19.

O CNA Jovem é uma iniciativa do Sistema CNA/Senar focada no desenvolvimento de novas lideranças capazes de mudar realidades locais, gerando valor aos seus beneficiários e deixando um legado de conhecimento no campo. Ou seja, tudo aquilo que Jildson procurava.

À época, ele integrou o grupo EducaAgro, que se sobressaiu no CNA Jovem entre as dez equipes formadas para apresentar soluções aos desafios prioritários do agro que, para a sua equipe, era aproximar a pesquisa ao campo e tornar-se uma rede propulsora de uso de bioinsumos na agropecuária.

Gostou tanto da experiência de integração e aprendizados com outros jovens do agro do Brasil que resolveu se inscrever e participar da 5ª edição do CNA Jovem, em outubro de 2022, para trazer mais respostas que pudessem ajudá-lo a implementar seus projetos no campo. Agora, os tempos eram outros e não havia mais o distanciamento social imposto pela pandemia.

“Nas atividades de propósito de vida, autoconhecimento e oficinas ao longo da jornada do CNA Jovem, finalmente descobri que poderia desenvolver uma ação concreta em prol dos produtores de sisal”, lembra.

Então, ele percorreu de moto 600 quilômetros para visitar produtores e representantes de algumas entidades dos municípios de Valente, Santaluz, Conceição do Coité, tudo para identificar os reais problemas de seus beneficiários antes de pensar em soluções. “Precisava das informações de outros produtores, pois só tinha a experiência do meu pai”.

O apoio e a vivência adquirida no CNA Jovem, programa que em 2024 completa dez anos e já envolveu 7.047 jovens de 22 a 30 anos de todas as regiões o país, representaram uma virada de chave para a concretização dos objetivos de Jildson.

“Consegui desenvolver a liderança empreendedora para a identificação de um problema, que já vinha estudando há dez anos, e transformá-lo em uma oportunidade para os produtores da minha região melhorarem a renda de suas famílias por meio da reutilização dos resíduos do sisal na sua produção”.

Dia de campo com os produtores de sisal no povoado de Rose, em Santaluz (BA)

Em 2023, na execução da sua iniciativa de liderança, Jildson reuniu 30 produtores de sisal, incluindo o pai, em um dia de campo no povoado de Rose. Como “ninguém faz nada sozinho”, ele mobilizou instituições e contou com o apoio do Sindicato de Produtores Rurais, secretarias municipais de agricultura, além de técnicos do Senar-BA.

Essa foi apenas uma das grandes ações que foi reconhecida como destaque na categoria Iniciativa de Liderança Empreendedora ao término do programa CNA Jovem.

Jildson compartilhou com os produtores de sisal o resultado de suas pesquisas

“Mostrei aos produtores como implantar unidades de processamento do resíduo do sisal em suas propriedades. Para quem cria animais, como é o caso do meu pai, expliquei o processo para o aproveitamento e conversão em alimentação para o rebanho, desde a mucilagem do resíduo até a transformação em feno”, explicou.

Para os produtores que não criam animais, a alternativa apresentada foi a unidade de processamento para a adubação do solo da lavoura de sisal. “É um processo de ciclagem de nutrientes, que contribui para a qualidade do solo e crescimento das culturas, tornando a propriedade mais sustentável”.

Dos 30 produtores que participaram do dia de campo, 13 já implantaram a unidade de beneficiamento de resíduo. Neste ano, Jildson vai dar continuidade na iniciativa para compartilhar o resultado de suas pesquisas com mais produtores.

Jildson em atividade no ensino técnico agrícola

Ao lembrar de sua jornada, Jildson sente como “se estivesse assistindo a um filme” onde o CNA Jovem ocupa uma parte fundamental do roteiro. A caminhada continua, mas ele não esquece da inspiração do passado.

“Meu pai é minha inspiração. Lá atrás, quando ele me falou para estudar, tudo foi se encadeando até eu conseguir concretizar uma ação que está contribuindo para a melhoria de vida dele e de outras pessoas do povoado. A importância do sisal em minha vida é fora do normal”, disse emocionado.

A história de Jildson faz parte da série de dez matérias que serão divulgadas até dezembro de 2024 para celebrar os 10 anos do programa CNA Jovem.

Para saber mais, acesse: https://cnajovem.org.br/

Fonte: CNA

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