O agronegócio brasileiro ganhou produtividade nos últimos 50 anos, mas o alto custo logístico provocado por falhas de infraestrutura faz o produto perder competitividade no mercado internacional.
Três países (Brasil, Argentina e Estados Unidos) concentram 80% da produção de soja no mundo e 90% do mercado de exportação. A competitividade nacional fica na rabeira do trio.
"O custo do produtor, da saída da porteira da fazenda até o porto onde o grão vai ser despachado para o exterior é cerca de quatro vezes maior que nos Estados Unidos ou na Argentina. O mundo não vai pagar 20% ou 30% a mais no valor final", declarou Luiz Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Fayet, Gustavo Spadotti, analista do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa, e Paulo Stark, CEO da Siemens, discutiram os desafios que o país enfrenta para superar o desafio logístico no fórum Agronegócio Sustentável, promovido pela Folha nas manhãs de quinta (14) e sexta-feira (15).
Segundo estudo feito pelo Gite, se o Brasil conseguisse solucionar seus problemas no escoamento de produtos do agronegócio, os produtores teriam um ganho 35% superior ao atual.
O problema, afirma Spadotti, é que o país investe pouco em logística de mesmo esse pouco é mal investido.
No último meio século, a produção do agronegócio se deslocou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste, cuja localização aumenta a dificuldade de transporte.
O desafio do Brasil é, segundo Spadotti, fazer com que os produtos da região sejam exportados através dos portos do eixo Norte, como o de Santarém, em vez dos portos do Sudeste.
Mas as dificuldades do transporte rodoviário em trechos ainda não asfaltados da BR-163 muitas vezes levam os produtores a evitar a rota do Centro-Oeste ao Norte.
Fayet, da CNA, afirma que a troca derrubaria o custo de transporte de cerca de US$ 125 por tonelada para US$ 80.
Investimentos
Os especialistas apontam também que problemas regulatórios e insegurança jurídica acabam afastando os investimentos necessários para solucionar os gargalos de infraestrutura.
"A lei brasileira restringe a compra de navios produzidos no exterior, mas a indústria naval nacional tem custos inflados", declarou Fayet. "Se eu carrego um navio para sair do Norte e ir até o Recife, o valor do frete vai ser semelhante ao custo para transportar um produto até Xangai."
A legislação brasileira, diz ele, faz com que a navegação de cabotagem no Brasil seja de sete a dez vezes mais cara que a de longa distância.
Outro ponto criticado pelo especialista foi o processo de licitação para a expansão da capacidade dos portos. "Cláusulas estabelecem que a concessionária deve aceitar novas normas que venham a ser editadas. Assim ninguém entra numa concorrência."
Tecnologia
Para o CEO da Siemens, Paulo Stark, investir em tecnologia — como a eletrificação de rodovias e ferrovias — aumentaria a eficiência do transporte.
"Estudos mostram que a eletrificação pode reduzir o custo logístico em até 45%. Não podemos priorizar modais do século passado, como o rodoviário."
Stark afirma que grandes países importadores de produtos brasileiros, como a China, estão investindo em veículos elétricos e podem impor, em breve, restrições a produtos expostos ao monóxido de carbono.
Fonte: Folha de São Paulo