A recuperação da produção de cacau na Bahia na safra 2016/17 -, após a quebra na temporada passada – ainda não será suficiente para deter as importações da amêndoa deste ano. Entre novembro e dezembro, as indústrias processadoras instaladas no país programaram o recebimento de 30 mil toneladas de amêndoa do exterior, o que deve levar o Brasil a fechar o ano com o maior volume importado em quase dez anos.
Os próximos carregamentos representarão mais da metade da quantidade já importada entre janeiro e outubro e deverão levar as importações do ano a 80 mil toneladas de cacau. A última vez que o Brasil importou um volume superior a esse foi em 2007.
Para garantir que o porto de Ilhéus – por onde entra todo o cacau importado pelo país – consiga equacionar esse volume, os representantes das indústrias estão discutindo com as autoridades portuárias para que a fiscalização da carga pela Receita Federal ocorra já nos armazéns das fábricas.
"Vamos negociar para que a carga passe pela checagem sanitária por parte do Ministério de Agricultura no porto e já vá para a fábrica e fique no armazém, onde a Receita vá e libere para que a carga seja usada na planta", disse Eduardo Bastos, diretor executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), que reúne as processadoras Barry Callebaut, Olam International, Cargill e Indeca.
Bastos avalia que a medida não será de difícil execução, uma vez que três das quatro fábricas localizam-se em Ilhéus, perto do porto, e a quarta unidade está na vizinha Itabuna. Mas a associação tem pressa para resolver a questão, uma vez que um carregamento com cacau chegará já nesta semana.
As cargas que estão prestes a chegar foram programadas entre três e seis meses atrás, quando a Bahia (principal Estado produtor) estava no pior momento da seca, segundo Bastos. Então, a AIPC estimava que a produção de cacau de 2016 seria de 150 mil toneladas, o que seria insuficiente para garantir a moagem esperada para o ano, de 240 mil toneladas.
Nos últimos meses, porém o cenário doméstico de oferta deu um giro de 180 graus. Com o fim do El Niño, as chuvas voltaram à região cacaueira da Bahia em julho e permitiram um desenvolvimento melhor dos frutos que estão sendo colhidos desde outubro, referentes à safra principal.
Diante disso, as indústrias elevaram sua estimativa para a produção nacional de cacau deste ano para 170 mil toneladas, 20 mil toneladas acima do cálculo anterior. Mas os contratos de importação já estavam firmados.
Além disso, o ritmo de entregas não se distanciou muito das do ano passado. Desde 3 de outubro, quando começou a nova safra, até 20 de novembro, os produtores brasileiros já haviam entregue às indústrias 32 mil toneladas de amêndoa, cerca de 4 mil toneladas a mais na base anual, de acordo com dados da TH Consultoria.
O aumento da importação de cacau em relação ao ano passado também está relacionado ao momento mais favorável para que as indústrias processadoras exportem os subprodutos de cacau, como manteiga e pó de cacau.
Com o dólar mais valorizado do que em 2015, as indústrias ligadas à AIPC estimam que, das 240 mil toneladas de cacau que serão processados, 65 mil toneladas serão transformadas em subprodutos que serão exportados. No ano passado, foram processadas 58 mil toneladas para o mesmo fim.
A expectativa até algumas semanas atrás era ainda mais otimista, de que seriam processadas 69 mil toneladas de cacau para serem transformados em subprodutos para exportação, mas a alta do real naquela ocasião levou à revisão das perspectivas, afirmou o diretor da AIPC.
Além disso, tanto as indústrias que processam cacau e as que fabricam chocolate também estão trabalhando com a perspectiva de alguma recuperação do consumo nacional de chocolate na próxima Páscoa – período que concentra entre 35% a 40% das vendas anuais do produto.
"Essa é a perspectiva das indústrias de chocolate, mas que também nos impacta. Para nós, já está havendo um aumento de produção por causa da próxima Páscoa", afirmou Bastos.
O cenário mais positivo previsto para 2017 é, na verdade, uma perspectiva de saída do fundo do poço, uma vez que as vendas de chocolate neste ano devem ser menores que as de 2015, que somaram 740 mil toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab).
Fonte: Valor