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Produção agrícola baiana cresce quase 40%

As frutas fresquinhas, vistosas e cheirosas chamam a atenção de quem passa em frente à banca de seu Luís Ribeiro, na Ceasa do Ogunjá. O comerciante costuma decorar as prateleiras com capricho. “Já tenho minha clientela certa. Mesmo com a crise econômica, eles sempre vêm aqui”, diz o comerciante que ocupa o ponto há mais de 30 anos. Além de uma bem-sucedida estratégia de venda, a banca de seu Luís é uma vitrine do potencial e das transformações da agricultura baiana nos últimos 11 anos. 

A maior parte dos legumes, verduras e frutas vendidas no local brotou em lavouras da Bahia. Mas nem sempre foi assim.

“Há onze anos, 60% dos nossos produtos eram de fora e 40% eram daqui. Agora a realidade é outra: 70% é daqui, dessa terra abençoada que é a Bahia. Só 30% vem de fora, como o kiwi, as ameixas e as maças. Quase tudo vem do interior do estado, até as uvas”, explica seu Luís.

O depoimento dele ajuda a comprovar os dados preliminares do Censo Agro. A agricultura baiana cresceu, ganhou diversidade e passou a fornecer alimentos que antes só eram encontrados em outros estados. A diferença do volume da produção agrícola da Bahia entre 2006 e 2017, chega a 38,3%, segundo o IBGE. Ano passado saíram dos campos do interior do estado mais de 18 milhões de toneladas de alimentos.  São mais de 5 milhões de toneladas além do volume que o estado era capaz de produzir em 2006. 

É esta produção agrícola abundante que enche as prateleiras dos mercados, feiras livres e bancas  que se espalham pelas ruas da capital baiana. Quem nunca se perguntou de onde vem tantos morangos, tangerinas e limões vendidos até nas sinaleiras de Salvador? Os revendedores se multiplicaram por todos os bairros da capital. Por certo, consequências de um país em crise, que impulsiona o mercado informal. Mas, sobretudo, retrato de uma agricultura que se faz aqui, dentro das fronteiras baianas, para abastecer o mercado interno.

Diversidade

As lavouras de soja, que dobraram a produção em 11 anos, tiveram uma forte participação no aumento da produção agrícola baiana. Mas o coordenador do Censo na Bahia, André Urpia, aponta outras influências neste bom desempenho.

“Um dos destaques é o tomate rasteiro, que é cultivado sem uso de estacas, diretamente no solo. De 52 mil toneladas em 2006, a produção chegou a 113 mil toneladas no ano passado. Um aumento de 117,16%”, informa Urpia.

A grande concentração de produtores de tomate está no território de Irecê, nos municípios de Cafarnaum, Canarana e Morro do Chapéu. Mais o maior produtor isolado é Campo Formoso, centro norte baiano. Só no ano passado o município produziu 22 mil 357 toneladas de tomate, quase 20% da produção do Campo Formoso fica a 400 quilômetros de Salvador. 

Mas a distância não impede que o tomate chegue fresquinho na capital baiana. Os caminhões saem  bem cedinho em direção a capital. Chegam no mesmo dia na Ceasa de Simões Filho. A maior central de abastecimento da Bahia recebe 50 mil toneladas de alimentos por mês – 80% desta carga é enviada pelos agricultores do interior do estado.

A maior expansão percentual foi registrada na produção de morango, que cresceu 5.375% em 11 anos. Em 2006 só foram produzidas 52 toneladas. Em 2017, o volume alcançou 2.874 toneladas. O aumento exponencial se deve a melhoria da capacidade de produção, e principalmente ao trabalho de centenas de agricultores de cidades como Barra da Estiva, Piatã, Morro do Chapéu, Mucugê e Ibicoara. Eles aprenderam a cultivar morangos adaptando o cultivo ao clima ameno da Chapada Diamantina.

“O principal fator que incrementou a produção foi a temperatura. Existem hoje várias formas de se cultivar morango. Atualmente, é a lavoura preferida do pequeno produtor da Chapada. Porque 45 dias depois de plantado já pode ser colhido. Gera receita para a propriedade em pouco tempo e vende todo dia”, destaca Felipe Barroca, engenheiro agrícola e especialista em agricultura irrigada.

Foi assim que a oferta aumentou, proporcionou a intensificação do consumo, e tornou possível a popularização do morango, antes considerado nobre e raro. Existem mais de 250 produtores na Bahia. Entre eles, Adilton Silva, que mantem cinco mil pés de morango no povoado Capãozinho, em Mucugê. Graças a agricultores como ele, não faltam morangos nas ruas de Salvador. Os morangos saem da Chapada em caminhões refrigerados, que preservam a temperatura dos frutos durante o percurso de 500 quilometros.

Com a grande oferta, os preços caíram. A caixinha com 6 a 8 unidades chega a ser vendida por até R$ 2 reais, a depender da época do ano. A queda de valor preocupa os agricultores.

“O preço está ficando muito baixo e pode tornar inviável a produção. Tem gente já experimentando outros cultivos. Como a amora, a uva, o figo e a tangerina Pokan, que é considerada a noiva da vez”, acrescenta.

Outro alimento made in Bahia cada vez mais numeroso nas prateleiras da capital é o repolho. A hortaliça é transportada pelas rodovias que ligam Salvador as cidades de Mucugê, Ibicoara, Itiruçu, Seabra e Jacobina, principais produtoras do Estado.
A diferença da produção baiana entre 2006 e 2017 chega a 85,31%, são 11 mil toneladas a mais. A oferta de outras duas frutas bem populares também cresceu. A produção de jaca aumentou 57%. Já a de abacaxi aumenTambém registraram alta na oferta a banana, o açaí, batata, berinjela, cebola, goiaba, manga, uva e pimentão. 

O IBGE ainda não tem informações exatas sobre o consumo dos alimentos. Mas os dados não vão demorar de ser conhecidos. “Nós acabamos de coletar os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar. Passamos um ano pesquisando para saber em que as pessoas estão gastando, quais os produtos mais consumidos. A pesquisa vai mostrar o peso de cada produto no orçamento das famílias, quanto se gasta com frutas, e as variações de consumo. Os resultados devem ser divulgados até o início do ano que vem”, adianta André Urpia.

Nas feiras, ruas ou supermercados, os consumidores já indicam o que mais gostam. Toda semana Agnaldo Santos vai até a feira das Sete Portas e compra o abacaxi que vem de Itaberaba. “Lá em casa sempre tem. Ainda mais agora que o abacaxi está graúdo”, diz o auxiliar administrativo. 

Produção de ovo na Bahia cresce 122%

As galinhas poedeiras da Bahia colocaram 81 milhões e 646 mil dúzias de ovos no ano passado. Isso representa 122,7% a mais do que em 2006, o penúltimo grande censo. Naquele ano, foram 36 milhões e 660 mil dúzias de ovos. O crescimento é quase o dobro da média nacional que ficou em 67,7%.

“As pessoas estão consumindo mais ovos, principalmente quem faz exercícios físicos e frequenta academia. O ovo está na moda, por ser um alimento comprovadamente saudável. O aumento da procura tem sido visto como oportunidade de mercado pelos produtores”, explica a  Diretora Executiva da Associação de Avicultura da Bahia, Patrícia Nascimento.

Apesar de tímida, a participação da Bahia na produção nacional de ovos subiu de 1,3% para 1,7%. Porém, as 44 milhões de dúzias a mais não foram suficientes para atender o mercado interno. A chamada “febre do carro do ovo” ajudou a incentivar o consumo, e a mostrar que o mercado tem espaço para absorver tudo o que for produzido. 

Entretanto, mais de 65% dos ovos que abastecem a Bahia ainda vem de outros estados, principalmente do Espírito Santo e Minas Gerais. De olho neste nicho, os avicultores planejam aumentar a produção no estado.

“Além da expansão da produção das grandes granjas, temos a perspectiva de abertura de outras empresas no ramo, ainda este ano. A expectativa é de que estes novos investidores já comecem a produzir neste segundo semestre”, acrescenta.

A produção baiana está concentrada em dez municípios, que respondem por 56% dos ovos de galinha gerados no estado. A maior granja fica em Entre Rios. De lá saíram, no ano passado, 18 milhões e 76 mil dúzias de ovos. Correspondente a 22% da produção baiana. As 700 mil aves da Granja Sossego põem mais de 600 mil ovos por dia. Significam também emprego para mais de 300 pessoas. 

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, o consumo por pessoa no Brasil subiu de 148 para 190 ovos por ano, entre 2010 e 2016. Mas em alguns países esta média é bem maior. O consumo anual chega a 300 ovos por pessoa, no caso da Dinamarca e México.

Fonte: Jornal Correio

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