No início do ano de 2017, o fenômeno da seca atingiu 219 municípios da Bahia, que decretaram estado de emergência. A informação foi analisada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, com dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil do estado da Bahia. O problema, como já aconteceu em outros períodos, concentra-se na região do Semiárido, que representa, aproximadamente, dois terços do território do baiano.
De acordo com a análise, os municípios atingidos pela estiagem abrangem uma área de aproximadamente 307,4 mil km², o que corresponde a 54,4% da área total do Estado. A população desses 217 municípios equivale a 38,7% do total da Bahia (5,9 milhões de pessoas). De acordo com Urandi Paiva, coordenador de estatística da SEI, são cerca de 4,2 milhões de pessoas foram afetadas diretamente pela falta de chuvas no Estado.
O Território de Identidade Sudoeste Baiano foi o mais afetado com 20 municípios que decretaram estado de emergência, seguido pelos territórios de Irecê (19 municípios), Chapada Diamantina (18) e Semiárido Nordeste II, Sertão Produtivo e Sisal, todos com 17 municípios.
A seca atual que afeta a Bahia e o Nordeste teve início em 2012 e se intensificou desde então. Ela já dura cinco anos e é considerada a mais severa em várias décadas. Não se tem registro na Bahia de seca mais persistente e aguda tal qual nos últimos 100 anos, segundo alguns especialistas. Desde 1911, ocorreram duas secas com duração de três anos (1930-32; 1941-43), duas com duração de quatro anos (1951-543 e 2012-2015) e uma com duração de cinco anos (1979-83).
Impactos agropecuários – Os efeitos da falta de chuvas são mais contundentes nos municípios que apresentam maior participação (superior a 40,0%) do setor agropecuário na composição do PIB municipal.
Entre os anos de 2010 a 2015 houve a redução na quantidade produzida das principais culturas dos municípios em estado de emergência. A redução mais brusca na produção ocorreu no ano de 2012 com todas as culturas selecionadas atingindo o menor patamar em termos de quantidade produzida no período, com a exceção da laranja que teve uma queda mais acentuada em 2015 e do cacau que apresentou a menor produção em 2013. Dentre as culturas analisadas a mandioca foi quem sofreu maior variação e ainda não conseguiu voltar ao patamar de produção de 2010.
Os impactos da estiagem prolongada sobre o território baiano vão além da produção de alimentos, interferindo também no abastecimento de água, inclusive na Região Metropolitana Salvador. Segundo a Embasa, em março de 2017, o volume de água armazenado na Barragem de Pedra do Cavalo, a segunda maior do Estado e que responde por mais de 60,0% do abastecimento de água de Salvador e Região Metropolitana, tinha caído para 24,1%, o menor volume nos últimos 20 anos.
Em um mês, quando estava com 27,8% do seu volume útil de armazenamento, a redução foi de 3,7%, o que equivale a uma perda de mais de seis milhões de litros de água, mais da metade do que o município de Salvador consome num dia. Há cinco anos a Bahia registra chuvas abaixo da média e, segundo os especialistas no assunto, não há previsão de normalização no curto prazo.
Nos três primeiros meses de 2017, grande parte do território baiano esteve com volumes de chuva abaixo dos 50 mm, fora dos padrões considerados de normalidade. As regiões do estado mais afetadas com a estiagem foram as do norte, nordeste, recôncavo, chapada diamantina e sudoeste, onde as chuvas foram escassas e abaixo do normal. As regiões oeste e do litoral sul, por outro lado tiveram volumes de chuva mais intensos, cujas precipitações médias ficaram em torno dos limites de 75 mm a 150 mm. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a previsão climática para o trimestre abril-maio-junho de 2017 indica maior probabilidade das precipitações se situarem abaixo da faixa normal climatológica, com distribuição de 20,0%, 35,0% e 45,0%, para cada mês, respectivamente, dentro e abaixo da faixa normal climatológica. Portanto, há uma forte expectativa por parte dos órgãos de monitoramento climático que ocorra uma manutenção dos baixos indicies pluviométricos para os próximos três meses em grande parte do território nordestino e na Bahia.
Perspectivas do PIB agropecuário – Reitera-se que a estiagem não deve afetar de forma tão intensa o PIB agropecuário no ano de 2017, haja vista que, a produção de grãos no extremo oeste baiano (soja, algodão, milho e feijão), que tem maior peso na composição VAB agropecuário, tem apresentado desenvolvimento satisfatório, dadas as condições meteorológicas favoráveis. Não obstante, caso não ocorra reversão do quadro climático para o semiárido, lavouras de segunda safra como a de milho e feijão, além da mandioca deverão ser afetadas.
Fonte: SEI