Matéria-prima do chocolate, o cacau é um fruto que marca a história do Brasil e tem seu dia reconhecido: 26 de março. Foi no sul da Bahia, que o cacaueiro, árvore também conhecida como “fruto de ouro”, encontrou as melhores condições de solo e clima para expandir-se. Assim, por muitos anos, as fazendas cacaueiras tiveram uma importante representação na economia nacional.
Em 1989, a praga vassoura-de-bruxa quase devastou a produção cacaueira, trazendo graves efeitos socioeconômicos e ambientais para as regiões de cultivo. Da safra 1990 até a de 2000, a produção de cacau na Bahia caiu de 356 para 98 mil toneladas. Foi com a contribuição da tecnologia que o controle da doença da fruta foi possível, desenvolvendo variedades tolerantes ao fungo.
Em 2016, o país produziu 146.998 toneladas de cacau e, desse total, 68,9% foi frutificado no sul da Bahia, o que representa 101,308 toneladas, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Além do chocolate, outros derivados são obtidos a partir do alimento: polpa, manteiga, geleias, licor.
De acordo com o coordenador de pesquisas da Ceplac, José Marque Pereira, o cacau é o principal produto agrícola do sul da Bahia e é muito adequado à agricultura familiar. Dos 15.256 produtores assistidos pela Comissão Executiva no ano passado, 12.432 foram agricultores familiares, atingindo mais de 80% do total. “É um cultivo que ainda dependente muito de mão de obra, necessitando ativamente dos produtores rurais. Só no estado, os cultivadores de cacau produzem mais de 30 marcas de chocolate, e quase todos são agricultores familiares”, explica.
A presidente do Instituto Nossa Ilhéus, Maria do Socorro Mendonça, aponta que, após a crise, a produção hoje já representa 50% do maior cultivo registrado na região. “Isso certamente é um indicador muito bom e é necessário que a CEPLAC, seja revitalizada para continuar a sua importante ação com pesquisa e extensão”, afirma.
Uma das marcas de chocolate da agricultura familiar é a Bahia Cacau, originária da primeira fábrica de chocolate da produção familiar do estado, e dirigida pela Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia solidária da Bacia do Rio Salgado e adjacências (Coopfesba), localizada no município de Ibicaraí.
São 120 agricultores familiares cooperados que cultivam o cacau orgânico para a comercialização de achocolatado, polpas de frutas e mingau, produtos que vão para 270 escolas estaduais de Salvador, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), além de produzirem bombons com nibs, barras de chocolate e amêndoas para vender em feiras locais.
A Coopfesba recebe suporte da Subsecretaria do Desenvolvimento Rural (SDR), da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), por meio de acompanhamentos e avaliações das produções; e pela Ceplac, através de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e capacitação em cultivos, apoio no acesso às políticas públicas e na formação de jovens empreendedores rurais.
O que é bom pode ser ainda melhor
O cultivo do cacaueiro, em sua maioria, é feito de maneira agroecológica. Além de preservar as espécies florestais nativas, a produção contribui para a retenção de água, manutenção dos recursos hídricos e até mesmo da fauna original. Segundo José Marques, 70% do cacau plantado na Bahia desempenha esses benefícios ecológicos.
Cultivo inspirador
O escritor e jornalista nascido em Ilhéus, Jorge Amado, escreveu seu segundo livro “Cacau”, em 1933. A publicação é considerada um romance-reportagem e narra a trajetória de um personagem que é orgulhoso por trabalhar em uma fazenda cacaueira. Por ter nascido na região e acompanhado histórias semelhantes à de seus personagens, o livro traz uma crítica social com retratos de sua biografia, quase um retrato fiel do que acontecia nas fazendas de cacau nas terras ilheenses.