O trigo, um dos alimentos mais consumidos do mundo, acaba de ter o DNA completamente mapeado. O mapeamento genético da planta foi realizado por mais de 200 cientistas de 73 organizações de pesquisa localizados em 20 países através do Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma.
A variedade sequenciada foi a Triticum aestivum L., conhecida como "Chinese Spring" ou trigo do pão. A expectativa é de que os dados auxiliem na identificação dos genes responsáveis por características como rendimento, qualidade de grãos, resistência a doenças, tolerância à seca e aumento do valor nutricional. O estudo foi publicado na revista científica Science e divulgado no Brasil pelo Conselho de Informações em Biotecnologia (CIB).
A demanda por trigo no mundo é crescente. O mapeamento pode ajudar no desenvolvimento de variedades mais produtivas e no aumento da produtividade do grão, sem a expansão das áreas de cultivo. "Os agricultores têm enfrentado dificuldades na lavoura. Para atender às demandas futuras de uma população mundial projetada de 10 bilhões até 2050, será necessário cultivar 60% a mais de trigo. Para preservar a biodiversidade, os recursos hídricos e os nutrientes, a maior parte desse aumento deve ser alcançada por meio do aumento de produtividade e não da expansão de área plantada", argumenta Adriana Brondani, diretora executiva do CIB.
Através da edição do genoma, os especialistas acreditam que podem agregar características que beneficiem os produtores e o meio ambiente. "Ao contrário do que muita gente pensa, ainda não há um trigo transgênico ou modificado geneticamente. O mapeamento genético do trigo é mais um passo para que essa cultura também receba uma dessas tecnologias", compelta Adriana.
Além do trigo, pelo menos outros três alimentos de alto consumo já foram mapeados nos últimos 16 anos. Em 2002, os cientistas finalizaram o sequenciamento do arroz. A soja teve o DNA mapeado em 2008. Já o mapa do milho foi concluído em 2009. Dezenas de outros alimentos, fora do grupo dos cereais, também já tiveram o sequenciamento genético finalizado, como o café e a cabaça, também conhecida como coité ou porongo.
Alternativa para alérgicos
O trigo é uma importante fonte de vitaminas e minerais, e faz parte da base alimentar de mais de um terço da população mundial. Mas algumas pessoas são alérgicas ao glúten e a outras proteínas do cereal. Recentes estudos apontam saídas para este problema de segurança alimentar.
Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que o trigo produz mais alérgenos quando cultivado em altas temperaturas. "Acreditamos que, ao entendermos os genes por trás desses alérgenos, os cientistas serão capazes de silenciar os trechos do DNA que as codificam e criar variedades menos alergênicas. Conhecendo 100% do genoma do trigo esse processo poderá ser acelerado", finaliza Brondani.
Entre os cereais, o trigo é o segundo mais consumido no mundo, depois do milho. Estima-se que o consumo mundial de trigo é de 67 kg por pessoa. Em alguns países, como a Dinamarca, o consumo per capita ultrapassa os 100 kg. Boa parte da produção de trigo é direcionada para a fabricação de cervejas.
Na Bahia
Como já divulgamos aqui no canal Agro Bahia do CORREIO, o cultivo do trigo na Bahia ainda é recente, começou há menos de 15 anos. Mas os dados do IBGE apontam que a lavoura deste alimento é uma das que mais crescem no estado.
O cereal, cultivado na entressafra da soja, ocupa fazendas nos municípios de Riachão das Neves, São Desidério e Barreiras. Segundo o IBGE, no ano passado,a produção foi de aproximadamente 3 mil toneladas. Apesar de ter produzido 6 milhões de toneladas de trigo em 2017, o Brasil importa a maior parte do cereal usado pelas confeitarias, padarias e agroindústrias de pães, biscoitos e farinhas; 80% do cereal vem de outros países, principalmente da Argentina.
Fonte: Jornal CORREIO