A riqueza do Matopiba está na vastidão de terra plana, ideal para o maquinário da soja. E, no caso do Tocantins, na disponibilidade relativa de água. O solo é pobre e com tendência à desertificação, o que torna a agricultura local 100% dependente de tecnologia. Para José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Ipea que estuda a economia do Matopiba, isso ajuda a alcançar sustentabilidade econômica e ambiental. Já existe muita inovação, destaca Deivison Santos, especialista em recursos hídricos da Embrapa em Palmas (Tocantins). Ele cita, por exemplo, estudos sobre como aumentar a produção de soja sem irrigação de forma sustentável. O que falta é difusão.
A soja brasileira é menos produtiva que a de outros produtores mundiais. Este ano, segundo a Conab, a produtividade média da soja no Brasil foi recorde, 3,39 toneladas por hectare. Porém, no Oeste da Bahia é de 2,1 t/ha. Na Argentina, é de cerca de 5 t/ha e nos EUA, de 6,5 t/ha. Para Bernardo Strassburg, diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade, o desafio é mudar a cultura do agronegócio brasileiro de aumentar produção por expansão de território. “É preciso haver estímulo e controle porque no Brasil, quase sempre, o agronegócio explora uma área, a esgota e vai embora”.
O climatologista Carlos Nobre lembra que o desmatamento é um dos maiores agentes de alteração do clima, com aumento da temperatura e redução das chuvas. Segundo ele, o Matopiba está 1,5 grau Celsius mais quente do que há 50 anos. E de 1997 a 2010, as chuvas tiveram uma redução de 5%, o que prejudica a soja. A reserva legal dá uma contribuição prática, pois reduz a temperatura local em até meio grau Celsius, o que é muito e favorece a manutenção da umidade no solo. Mas o discurso lógico, baseado em ciência, não funciona. “No Brasil, a agropecuária cresceu sobre o domínio da terra. É um modelo arcaico, lógica do século XVI. O negócio é a terra e não o que se produz nela. A soja brasileira ganha volume em área, mas não em produtividade. Por isso, respeitar reserva legal e áreas de proteção permanentes (nascentes e margens de rios) não tem sido a regra”, diz Carlos Nobre.
Mudança de modelo
A representante do Pnud no projeto, Rose Diegues, observa que um dos grandes desafios é mudar esse modelo. “O Cerrado é o berço das águas, importante para todo o Brasil. Queremos oferecer uma proposta diferente, de aumentar a produtividade sem exaurir os recursos e ir adiante. A meta é fixar o produtor”.
No Matopiba, há espaço de sobra para produzir o dobro sem desmatar mais, afirma Arthur Bragança, pesquisador da Climate Policy Initiative Brazil, que publicou estudo recente sobre as consequências da expansão agrícola na região. “Está mais do que na hora de o Brasil olhar para o Matopiba. Ali se gera riqueza. Agora é preciso ter desenvolvimento.”
Um dos orgulhos do catarinense Eduardo Archer, que planta soja e cria gado, é a lagoa repleta de aves selvagens da fazenda que leva o nome da família em Silvanópolis (TO). A Fazenda Archer, de 4.600 hectares, está entre as primeiras selecionadas pelo projeto, pois quase a metade da área (45%) está conservada, bem mais do que os 20% de reserva legal e acréscimos de áreas de proteção permanente (APPs).
Os Archer começaram a comprar as terras há 30 anos e estão entre os primeiros produtores de soja a chegar, em sua maioria originários do Sul. Archer olha o mapa produzido pela equipe do projeto e a primeira coisa que procura são as nascentes. Tem faltado água para o gado. A produção de soja caiu. A fazenda agora recupera áreas de pastagem. Ele diz saber que o Cerrado é vital para o negócio, ajuda a superar irregularidades do clima. “Conto com o apoio do projeto para descobrir qual o melhor caminho”.
Para Santos, o Matopiba é mais que uma terra de oportunidade, é de aprendizado. “A fronteira é o lugar de aprender com erros do passado. Temos tecnologia. É questão de vontade política”.
Fonte: O Globo