Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que o preço do leite cru captado por laticínios em março chegou a R$ 2,8120/litro na “Média Brasil” líquida, altas de 2,4% frente ao mês anterior e de 10,8% em relação a março/22, em termos reais.
Com isso, o valor do leite cru acumula avanço real de 9,3% no primeiro trimestre de 2023 (os valores foram deflacionados pelo IPCA de março/23).
De acordo com o centro de estudos da USP, a oferta limitada no campo é o fator que sustentou o aumento das cotações ao produtor neste primeiro trimestre, movimento atípico para esse período.
“A produção foi prejudicada pelo clima adverso, resultado do fenômeno La Niña, e pela saída de produtores da atividade no ano passado”, aponta o Cepea.
O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) recuou 2,86% de fevereiro para março na “Média Brasil”, acumulando queda de 6,78% no primeiro trimestre. Nesse contexto, a disputa dos laticínios por produtores se intensificou, mantendo as cotações do leite cru em alta.

Esse movimento de valorização, contudo, não foi simétrico ao longo da cadeia produtiva, ressalta o Cepea. “Houve muita oscilação dos preços, sobretudo no mercado do leite spot, que é quinzenal. Em Minas Gerais, houve queda na primeira quinzena, e, apesar da alta na segunda metade de março, a média mensal caiu 1,6% e chegou a R$ 3,00/litro”, informa.
A pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que as cotações do UHT e da muçarela negociados entre laticínios e canais de distribuição caíram 1,77% e 4,34%, respectivamente, de fevereiro para março.
Dois fatores pressionaram as cotações do spot e dos derivados em março: a diminuição do consumo, fragilizado pelo menor poder de compra do brasileiro, e o crescimento das importações, que elevaram os estoques.
Dados da Secex mostram que, no primeiro trimestre, o volume importado foi três vezes maior que o do mesmo período de 2022. Apenas em março, foram internalizados 209,5 milhões de litros em equivalente leite.
Essa quantidade representa cerca de 10% do total de leite cru industrializado pelos laticínios brasileiros (levando-se em conta a média dos volumes de mar/20, mar/21 e mar/22, da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE).
Agentes do setor acreditam que os preços do leite cru podem seguir firmes em abril, fundamentados na aproximação do período de entressafra e na consequente diminuição da produção no campo. “Contudo, a demanda enfraquecida e o aumento das importações podem frear a intensidade desse possível avanço nos preços. Inclusive, na percepção dos agentes do setor, esses dois fatores têm potencial para amenizar as variações a partir de maio, o que implica na expectativa de um segundo trimestre menos volátil que o do ano anterior”, conclui o comunicado do Cepea.
Fonte: Portal DBO