A escassez de água faz aumentar a necessidade do uso de alternativas que otimizem a preservação dos recursos hídricos existentes. Pensando nisso, o Sistema Faeb/Senar realizou em Piritiba e Miguel Calmon, o curso de Proteção e Recuperação de Nascentes, ministrado pelo instrutor paranaense Pedro Diesel, famoso por defender a intervenção positiva das nascentes com o uso de tecnologia simples e de fácil acesso para o produtor rural, através de um sistema criado para melhorar a qualidade e quantidade de água disponível. A ação aconteceu em parceria com os Sindicatos dos Produtores Rurais das duas cidades.
Foram três dias de curso em cada município, direcionado para produtores rurais da região, instrutores e técnicos de campo do Sistema Faeb. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, participou da abertura do curso em Miguel Calmon. “Temos técnicos de diversas regiões do estado sendo treinados, justamente para que eles sejam agentes multiplicadores e disseminem a tecnologia aprendida para os produtores que querem fazer esse trabalho de recuperação de nascentes em suas propriedades. Temos hoje tecnologias para produzir de forma sustentável no Semiárido e em outras regiões da Bahia durante o ano inteiro, independente das questões climáticas”, destacou Miranda.
As nascentes ou olhos d’água são pontos iniciais, na superfície da terra, onde brota a água subterrânea, dando origem ao curso d’água. Elas alimentam os rios. São milhares de nascentes espalhadas por todo o território baiano, que exigem cuidados e proteção.
As águas provenientes das nascentes podem ter qualidade suficiente para o abastecimento das cidades, destinadas tanto para o consumo humano quanto para a atividade produtiva nas propriedades rurais, e também ajudam na preservação da biodiversidade brasileira.
O instrutor Pedro Diesel explicou como desenvolveu uma tecnologia mais eficiente de proteção das nascentes. “Há alguns anos, nos métodos antigos, era comum ver nascentes com depósitos de água. Então, percebi que era necessário que elas ficassem mais baixas, para que a água pudesse correr, como acontece, por exemplo, na circulação sanguínea do corpo humano. Com a água parada é mais fácil de ocorrer contaminação, por conta de todo material orgânico que existe em volta. Outro ponto negativo do sistema antigo é que, com a pressão da água parada, a nascente pode mudar o curso e acabar secando. No decorrer do meu trabalho eu fui tentando entender o que a natureza queria”, ponderou Diesel.
“Isso é o que realmente precisamos fazer! O Sistema Faeb/Senar, em parceria com os sindicatos, está ajudando a melhorar a vida do produtor rural. A conservação da água é de extrema importância, por ser o bem mais precioso que a humanidade possui”, ressaltou o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Piritiba, Edivaldo Dias de Souza.
O curso contou com aula teórica e prática de campo, quando os participantes foram até propriedades da região e com o auxílio de Pedro Diesel aprenderam a desenvolver a tecnologia. Em Miguel Calmon a recuperação foi realizada na Comunidade de Bitu/Campo do Silva. A nascente vai abastecer mais de 20 famílias, com uma vazão estimada em mais de 12 mil litros/dia.
“Nossa região é muito rica em nascentes, mas, até por falta de informação e de conhecimento, muitas delas estão sendo mal utilizadas, algumas inclusive secaram. Agora estamos preparados para preservar essas nascentes cada dia mais, melhorando a nossa situação no campo e também da natureza de modo geral”, salientou o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Miguel Calmon, Orlando Lima.
Etapas de implementação do sistema
Antes de iniciar as etapas da intervenção é necessário avaliar se a nascente tem potencial para ser recuperada. Após atestar essa viabilidade, foi realizada a limpeza da área, para a localização dos olhos d’água e retirada de resíduos, como galhos, folhas e lama, utilizando ferramentas como pá e enxada. Em seguida foi cavada uma vala alimentadora, uma espécie de caminho reunindo todos os olhos d’água, uma intervenção positiva feita para que ocorresse o escoamento da água.
Nas etapas seguintes foram colocadas pedras ferro na vala, até a cabeceira da nascente, que posteriormente foi coberta por uma lona, para evitar a contaminação da água quando fosse colocada a terra no final, e também para que não houvesse invasão de resíduos levados pelas enxurradas.
Uma massa de cimento, argila (terra peneirada do próprio local) e água foi preparada e depositada para proteger a cabeceira, na construção da barragem. Esta é etapa de vedação e colocação dos canos de 100, 50 e 25 milímetros (mm), por onde sai água. Cada cano tem sua função.
O cano de 100 mm tem a função de limpeza do local. O de 25 mm é o que vai captar a água para ser levada até a caixa d’água da propriedade. De acordo com a vazão da barragem são colocados três ou quatro canos de 50 mm, que servem para saída do excesso de água. Quanto maior a vazão, maior também é a quantidade de canos utilizados. O último cano, de 25 mm, colocado na vertical logo no início da nascente é utilizado para realizar a desinfecção com água sanitário, normalmente feita periodicamente de quatro em quatro meses. Ele deve ficar tampado.
A última etapa é a complementação da proteção das nascentes, com a plantação de árvores frutíferas e de espécies nativas para estancar a água e também diminuir a evaporação, além dos benefícios climáticos e ambientais gerados.
Fonte: Ascom Sistema Faeb