A colheita de soja do Brasil, maior exportador global da oleaginosa, deve atingir um volume recorde acima de 105 milhões de toneladas, de acordo com três consultorias privadas que elevaram seus números nesta sexta-feira.
Os analistas citaram produtividades recordes com o clima beneficiando as lavouras, após uma seca reduzir a colheita do ano passado, que fechou em torno de 95 milhões de toneladas.
O salto previsto de mais de 10 por cento na safra de um ano para o outro –em uma temporada em que a área plantada aumentou menos de 2 por cento, o menor avanço em uma década– ocorre com a colheita tendo atingido nesta semana, na média nacional, cerca de 10 por cento da área plantada.
Produtividades recordes estão sendo vistas em importantes regiões produtoras, como o Mato Grosso, elevando o rendimento agrícola médio projetado no país para 52,2 sacas por hectare, acima do recorde de 51,9 sacas alcançado na safra 2010/11, afirmou consultoria a AgRural.
"Perdas ainda podem ocorrer por falta de chuva no Matopiba e no Rio Grande do Sul, que têm lavouras mais tardias, ou por excesso de chuva na colheita em outros Estados. Mas, a julgar pelas previsões para a primeira quinzena de fevereiro, a produção acima de 100 milhões de toneladas já parece estar assegurada", declarou a AgRural em nota.
A consultoria elevou nesta sexta-feira sua previsão para a safra de soja do Brasil 2016/17 a um recorde de 105,4 milhões de toneladas, ante 103,1 milhões no levantamento de janeiro.
A AgRural ainda elevou a previsão da safra de milho do Brasil para 89,3 milhões de toneladas, ante 88,6 milhões na previsão de janeiro, principalmente com uma reavaliação da safra de verão, cuja estimativa subiu para 29,1 milhões de toneladas.
Mais cedo, a consultoria Safras & Mercado apontou uma projeção ainda mais otimista, de 107,1 milhões de toneladas de soja para o Brasil.
A Safras afirmou ainda que, após a chegada de chuvas em um momento-chave, o temor com a produção do Norte/Nordeste do país dá espaço agora a uma perspectiva de produtividade regular.
Segundo a consultoria, o retorno da umidade, principalmente no oeste baiano, "deve garantir um desenvolvimento razoável das lavouras de soja que estavam começando a sofrer com o estresse hídrico, recuperando as plantas e impedindo grandes perdas".
A empresa de análise privada Informa Economics também elevou nesta sexta-feira sua estimativa para a safra de soja do Brasil em 1,5 milhão de toneladas, para 106,5 milhões de toneladas, segundo fontes de mercado.
Força de Mato Grosso
As revisões ocorreram após uma semana em que a colheita de soja de Mato Grosso, o principal produtor nacional, deslanchou, garantindo uma oferta apenas do produto mato-grossense de quase 10 milhões de toneladas, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
"Tivemos uma trégua da chuva no início da semana… E os produtores aproveitaram… O maquinário que temos hoje no campo é grande e de extrema eficiência, por isso nesta semana em praticamente três ou quatro dias conseguimos avançar 1,35 milhão de hectares", disse à Reuters o superintendente do Imea, Daniel Latorraca.
Segundo Latorraca, não fossem as chuvas em alguns dias, a colheita estaria mais avançada. Ainda assim, a oferta de soja está bem superior à registrada no mesmo período do ano passado, favorecendo as exportações brasileiras.
A colheita mais avançada e o tamanho da safra brasileira já estão bem precificados pelo mercado, disse Latorraca, lembrando que o mercado global pode sofrer oscilações dependendo das perdas por chuvas intensas na Argentina.
"Caso seja uma queda significativa, os preços podem melhorar."
Ele disse ainda que a questão da qualidade para a soja de Mato Grosso, em função das chuvas, é uma preocupação maior, principalmente para o produtor que não tem armazém.
Chuvas na colheita podem afetar a qualidade da soja, reduzindo o valor pago pelo produto.